Brasil melhora em matemática, mas ainda é um dos piores em educação
RIO - O Brasil teve a maior evolução de desempenho em Matemática entre os países avaliados pelo Programa Internacional de Avalição de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) desde 2003. O país também aumentou o índice de estudantes matriculados na escola. Mas as boas notícias, basicamente, param por aí. Segundo a pesquisa, divulgada mundialmente nesta terça-feira, mesmo com a melhora de rendimento, o Brasil está bastante abaixo da média em Matemática, ocupando um lugar entre a 57ª e a 60ª posições no ranking de 65 ecnomias globais. Na área de Leitura, o país também vai mal, está entre a 54ª e a 57ª colocações. Já em Ciências, os estudantes brasileiros estão, mais uma vez, entre a 57ª e a 60ª posições.
Coordenado pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Pisa é a mais importante pesquisa internacional de educação. Divulgado de três em três anos, o relatório tem por objetivo melhorar as políticas públicas voltadas para o ensino nos 65 países que participam do estudo. Em relação a 2000, primeiro ano do programa, o Brasil teve a maior evolução de rendimento em Matemática no Pisa: de 334 para 391 pontos. Mas o rendimento ainda é pra lá de insatisfatório. A média geral entre os outros países na mesma prova é de 494, sendo que a cidade de Xangai, na China, que ficou em primeiro, fez 610 pontos.
Em Leitura, a nota brasileira subiu de 396 para 410 pontos desde 2000, mas continua abaixo da média do Pisa, que é de 496 pontos. Em Ciências, o país foi de 375 para 405 pontos (a média geral é de 501 pontos). Entretanto, em relação a 2009, quando foi realizada a edição anterior do Pisa, percebe-se uma preocupante estagnação no aprendizado nacional. Nesses três anos, a nota de Matemática do Brasil subiu apenas cinco pontos, a avaliação de Leitura piorou dois pontos e, na de Ciências, permaneceu no patamar idêntico.
Segundo o relatório do programa, o índice de adolescentes de 15 anos brasileiros matriculados na escola subiu de 65% em 2003 para 78% em 2012, algo que é obviamente visto como um avanço no ensino nacional. Porém, de acordo com a OCDE, “o Brasil precisa procurar maneiras mais efetivas de trabalhar com estudantes de rendimento baixo para, assim, estabelecer altas expectativas para todos, motivar alunos e reduzir os altos índices de abandono escolar”.
O Pisa 2012 mediu o rendimento de 510 mil estudantes de 15 anos de idade. Este número representa um universo de 28 milhões de alunos nessa faixa etária. Durante a avaliação, estudantes de colégios escolhidos pelos governos dos 65 países realizam um teste de duas horas cujo conteúdo não está diretamente ligado ao currículo escolar. As questões são sempre elaboradas de forma a medir o quão municiados os estudantes estão integrar a sociedade atual. Todos os enunciados reproduzem situações reais. Os alunos e seus diretores escolares também respondem a um questionário que colhe informações sobre seu sistema de ensino.
O foco do programa este ano foi a avaliação de Matemática. Neste aspecto, o Brasil está no mesmo patamar de países como Argentina, Albânia, Jordania e Tunísia. Na comparação restrita à América Latina, o país está pior do que Chile, México, Uruguai e Costa Rica, mas seu rendimento na disciplina é melhor do que os de Colômbia e Peru. De acordo com o Pisa, a melhora em matemática se deve uma redução na proporção de estudantes cujo desempenho é considerado baixo (níveis 1 e 2). Em 2012, 67,1% dos alunos no país estavam rotulados dessa forma. Isso quer dizer que eles não sabem fazer operações simples envolvendo frações, porcentagem e proporção. Em 2003, eles eram 75,2% dos estudantes avaliados. Apenas 1,1% dos participantes avaliados no Brasil tem rendimento tido como de alto nível (níveis 5 ou 6).
Na avaliação de Leitura, a nota de 410 pontos do Brasil deixa o país em pé de igualdade com Tunísia, Uruguai e Colômbia. Na comparação com outras economias da América Latina, estamos piores do que Chile Costa Rica e México. E melhores do que Argentina e Peru. Nossa evolução desde 2000 é creditada a melhorias de fatores econômicos, culturais e sociais no país. Ainda assim, 49% dos nossos alunos tem nível baixo de proeficiência em leitura. Isto significa que esses estudantes conseguem, no máximo, reconhecer o tema proposto pelo autor e fazer uma simples conexão com a realidade atual do mundo. Apenas 0,5% dos brasileiros de 15 anos são classificados como nível 5 ou 6, os mais altos, na avaliação de Leitura.
Na avaliação de Ciências, os 405 pontos alcançados pelos adolescentes brasileiros avaliados estão na mesma faixa de Tunísia, Jordânia, Argentina e Colômbia. Na América Latina, estamos, mais uma vez, em situação pior do que Costa Rica, México, Chile e Uruguai, mas a nota supera a avaliação do Peru. Dos estudantes no país, 61% tiveram performance baixa nesse exame, o que significa que eles conseguem apenas explicar o óbvio. Uma parcela quase irrisória de 0,3% dos alunos são classificados como de níveis 5 e 6 na área das Ciências.
Desigualdades
Na avaliação da diretora-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, quando destrinchados, os resultados do Pisa revelam como ainda há profundas desigualdades de oportunidades no Brasil. Segundo ela, políticas mais enfáticas devem ser executadas em função daqueles que mais precisam de atenção:
- Nos últimos anos, o país passou a garantir acesso ao ensino aos pobres também, mas isso não significa que a escolas tenham se tornado inclusivas do ponto de vista de aprendizagem. Os colégios devem ser pensados para atender aos mais pobres de maneira diferenciada, para que sejam sanadas as defasagens vindas da condições sócio-econômicas. Essas pessoas são as que mais precisam de ensino integral. Além disso, nas escolas que atendem a essa parcela da população devem estar os melhores professores - avalia.
O pró-reitor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro da Academia Brasileira de Educação, Antônio Freitas, lamentou o desempenho do Brasil. Segundo ele, a baixas na educação podem comprometer o desenvolvimento do país.
- É lamentável um país que está entre as dez maiores economias do mundo ter ficado em posições que não são aderentes a essa realidade. Precisamos de muito mais alunos interessados e preparados em matemática e ciências, para que possamos ter novas tecnologias e atingir bons níveis de desenvolvimento - conclui.
Fonte: O GLOBO
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