Brasil ainda tem 1 milhão fora da escola

Os números do Censo do IBGE mostram que, apesar de o problema ser mais
grave nas regiões Norte e Nordeste, nenhum estado conseguiu até hoje
incluir todas as crianças de 6 a 14 anos na escola. Esta população de
não estudantes representa 3% do total da faixa etária. Pode parecer um
percentual pequeno, mas é grave quando se considera que é quase um
milhão de crianças que ainda não têm garantido um de seus direitos mais
básicos, previsto pela Constituição de 1988: estudar. Se a esse grupo
forem incorporados as crianças de 4 e 5 anos e os jovens de 15 a 17 (que
passam a fazer parte da faixa etária de escolaridade obrigatória a
partir de 2016), o número aumenta para 3,8 milhões, ou 8% do total.

Tabulações feitas pelo GLOBO nos
microdados do Censo mostram que o problema é maior entre os mais pobres e
crianças com algum tipo de deficiência. Os números também revelam que a
maioria (62%) das crianças que não estudam dos 6 aos 14 chegou um dia a
frequentar a escola, mas abandonou os estudos. O problema é ainda mais
grave se consideradas as faixas etárias de 4 e 5 anos e de 15 a 17, que
desde 2009 passaram a ser também obrigatórias, mas com prazo para
adequação dos sistemas até 2016.


As razões mais citadas por especialistas para isso são falta de interesse, repetência, gravidez precoce e necessidade de trabalhar.
Ex-representante da Unesco no Brasil e doutor em Educação pela Universidade de Stanford, o assessor internacional para a área de educação, Jorge Werthein, diz que o
primeiro passo, nada fácil, é identificar as crianças e adolescentes que não têm acesso à escola.

— O Brasil é um país de contrastes. Há estados importantes com uma grande periferia urbana e muitas desigualdades econômicas. Há estados com uma área rural significativa
que sofrem com a falta de escolas. Num país continental, é uma tarefa árdua chegar a essas crianças e adolescentes por estado, por capital, por região metropolitana. Mas é preciso achá-los e depois convencê-los aingressar ou a voltar para a escola 

— diz.
— Depois, nós temos que repensar a escola para que ela seja um espaço não apenas prazeroso, mas em que os alunos sintam que estão aprendendo. Uma escola ruim em qualquer lugar domundo expulsa os alunos, com repetências e abandono. Deixa para eles a mensagem de que não são capazes, o que marca de forma brutal meninos e meninas 
— completa Werthein.
— Houve uma evolução inegável nos últimos dez anos. Mas ainda há muita criança fora da escola, situação agravada pelas desigualdades. Entre 4 e 5 anos, há 83% estudando no
Sudeste, o que ainda é ruim, mas pior é haver só 69% dentro de sala de aula no Norte — afirma Andrea Bergamaschi, do movimento Todos pela Educação. 

— Para reverter este quadro, precisamos de políticas públicas cirúrgicas, específicas para cada situação.

O GLOBO

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