O BRASIL EM PERIGO

A "entrevista" que se segue foi montada, seguindo, com fidelidade, informações a partir da cartilha intitulada, "O BRASIL EM PERIGO," de autoria de Enéas Ferreira Carneiro.
15/08/98

 Dr. Enéas, como é que eles estão conseguindo manter a inflação em níveis tão baixos?
 A inflação é um processo em que os preços vão aumentando, progressivamente, em função de diversos fatores. No Brasil, como dois terços da população vivem numa economia de subsistência, é completamente falsa a tese de que a inflação brasileira é uma inflação de demanda, de consumo. Os preços não estão subindo porque a população está comprando muito e, conseqüentemente, aumentando a procura e pressionando o aumento dos preços. A inflação brasileira é uma inflação de custos. Como, no custo final de um produto, estão sempre embutidos os impostos e as taxas de juros, é teoricamente impossível acabar com a inflação, mantendo-se tão elevados os impostos e tão gigantescas as taxas de juros.

 Qual é, então, o milagre do Plano Real?
 Que projeto maquiavélico, diabólico, foi esse que, sem mexer nas verdadeiras razões da inflação - taxas de juros e impostos elevadíssimos - está conseguindo mantê-la em níveis próximos de 1% ao mês? O governo, num passe de mágica, fez o real valer mais do que o dólar. Diminuiu as tarifas de importação e, com o dólar barato e tarifas baixas, inundou o mercado com produtos importados, verdadeiras quinquilharias. A indústria nacional foi obrigada a manter os preços baixos, para poder concorrer com os preços dos produtos importados. Se os custos das empresas tivessem sido repassados para os produtos, elas perderiam o mercado, que se encontra cheio de importados. Esse é o primeiro ponto, o primeiro item, no processo de contenção da inflação, destruindo a indústria nacional. Nesse primeiro item, note bem, o câmbio puxa a inflação para baixo. Tudo artificial, sem sustentação.
E a questão salarial, porque os salários são tão baixos?
Pois é, esse é o segundo ponto. Houve uma perda salarial, desde o momento da instalação do Plano Real, avaliada em torno de 30%. Isso aconteceu na virada da URV para o Real. Como os salários não aumentam (apesar do preço dos produtos subir), a inflação é também puxada para baixo, porque não existe dinheiro em circulação. Dá para se notar a falta de dinheiro no bolso de todo mundo. Quase ninguém está podendo pagar suas contas. As pessoas estão indo à falência. E ainda há um terceiro elemento…
…qual é?
Com as taxas de juros mantidas lá no alto, na estratosfera, ficou quase impossível, para os agricultores, o pagamento dos empréstimos contraídos. Quem é que não se lembra da carreata de protesto, que os produtores agrícolas fizeram até Brasília? Se os agricultores repassassem os custos para os produtos agrícolas, perderiam o mercado, não iriam vender nada, porque o governo, também, importou alimentos, baixando as tarifas para o nível daquelas existentes na Argentina. Como se percebe, facilmente, o terceiro elemento é este: os preços agrícolas puxando a inflação para baixo. Então, são três os elementos de sustentação fictícia do Plano Real: câmbio, salários e agricultura. O governo não tocou, nem de leve, nos impostos e no ponto nevrálgico da situação, que são as taxas de juros. A questão crucial da inflação brasileira, escondida pela Imprensa, é a alta taxa de juros com que se pagam os títulos da Dívida Mobiliária. Por exemplo, em 1996, pagou-se, de juros, a cifra espantosa de 23 bilhões e 600 milhões de dólares. São cerca de 2 bilhões de dólares por mês, correspondentes a 66 milhões de dólares por dia, ou 2 milhões e 700 mil dólares por hora. Esses números são astronômicos! Nenhuma nação pode suportar tamanho encargo!

É por isso que o povo é tão pobre?
Olhe, note bem: se uma pessoa ganhar 300 reais por mês, bem mais do que um salário mínimo, precisará trabalhar, "apenas", 750 anos, quase 1000 anos, para ganhar o que o Brasil paga, de juros, em uma hora. Veja bem, refiro-me apenas aos juros. Aí vem o governo e diz que vai privatizar as estatais, para diminuir a "dívida interna." Acontece que já se venderam inúmeras estatais, incluindo-se dois gigantes nacionais - a Companhia Siderúrgica Nacional e a Usiminas, - mas, apesar disso, a "dívida interna" continua crescendo. Em 1994, a "dívida interna" era de 50 bilhões de dólares. Em 1997,ela estava em cerca de 180 bilhões de dólares. Desses 180 bilhões de dólares, 60 bilhões foram transformados em dívida, junto a bancos estrangeiros, passando a constituir uma parte da Dívida Externa do Brasil.
Então, Dr. Enéas, de que adiantou vender as estatais?
Venderam a Escelsa, do Espírito Santo, por 250 milhões de dólares, que serviram para pagar, unicamente, 3 a 4 dias de juros. Veja bem, só juros!!! Venderam, também, a Vale do Rio Doce, detentora de um patrimônio incalculável, dona do subsolo mais rico do planeta O controle da Vale do Rio Doce foi entregue por 3 bilhões, 338 milhões de dólares, o que não deu para pagar nem dois meses de juros. Estão vendendo, entregando, doando, de mão beijada, toda a riqueza que é de nossos filhos, de nossos netos. E a "dívida" só faz aumentar. Hoje, ela ultrapassa, em muito, 220 bilhões de dólares!
E os bancos estaduais, Dr. Enéas?
O Plano Real, esse plano diabólico, conseguiu, também, quebrar os bancos estaduais. E lá se vão o BANERJ, o BANESPA e outros, muitos outros, que não conseguem pagar os juros, só os juros, sempre os juros!!! Querem, até, privatizar a Previdência, dizendo que ela só dá prejuízo. Mas, isso também é mentira. Nos últimos 10 anos, a Previdência só deu prejuízo duas vezes: em 1984 e em 1988. É uma estrutura altamente lucrativa e, por isso, eles querem privatizá-la. É apenas mais um lugar, para onde o polvo quer estender mais um de seus tentáculos, deixando a população à míngua.
E as taxas de juros?
Eles dizem que as taxas de juros têm que ser mantidas altas, para atrair capitais, porque existe um déficit público. Mas não dizem que só existe déficit público, em função do pagamento das altas taxas de juros. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Baixando-se as taxas de juros, baixando-se o serviço da "dívida", não há déficit. Mas, isso, a Imprensa não comenta. Deixo, aqui, as seguintes questões:
  1. Até quando a Agricultura irá agüentar?

  2. Até onde, as diversas classes trabalhadoras irão suportar as perdas salariais?

  3. Até que nível vão fazer descer a atividade industrial?

  4. Quantos milhões a mais de pessoas estarão desempregadas, como conseqüência desse massacre? Hoje, já são mais de 20 milhões de desempregados.

  5. E o comerciante, até quando irá agüentar?

  6. E quem ganha um salário mínimo, que ganhou, sempre, apenas para comer, comendo mal, esse sim, é capaz de jurar que tudo está bem. Porque o dinheiro que volatizava, desaparecia, desmanchava-se antes do Plano Real, agora, aparentemente, parece render mais. É verdade, rende, acabando com o restante do país.
O que não se sabe, porque a Imprensa não deixa saber, é que a situação atual está sendo artificialmente mantida. Mais à frente, sem nenhuma sombra de dúvida, o Plano Real vai estourar, vai para o espaço. Não dá para precisar em que momento isso irá acontecer, mas que vai acontecer, não resta a menor dúvida, infelizmente. Vai ser terrível, terrível! O mais triste de tudo é saber que a maioria de nossa população é desinformada, analfabeta e aceita tudo com passividade, habituou-se a sofrer, é fácilmente manipulada. Em cima da miséria, a criminalidade aumenta, o número de homicídios, também, justamente em função desse desespero, dessa miséria crescente.
E a Agricultura?
Eles já quebraram a Agricultura. Criaram uma inadimplência monstruosa, ninguém tem dinheiro para pagar as contas, levando a um nível absurdo, inacreditável, os títulos protestados, as concordatas e as falências. E não se coloque a culpa nos devedores. As pessoas deixam de pagar, simplesmente, porque não têm dinheiro. Existe uma impossibilidade absoluta, de quem trabalha, de quem produz, de concorrer com a agiotagem institucionalizada pelo governo e aplaudida pela Imprensa. O Plano Real é destruidor, cínico e desumano!

  1. Destruidor, porque está deteriorando toda a atividade produtiva do país.

  2. Cínico, porque se apresenta como a salvação, quando, na verdade, está levando nosso povo para a bancarrota, para o abismo.

  3. Desumano, porque, à semelhança do que estão fazendo com a Argentina, com o México e toda a América Latina, faz crescer, em todos os cidadãos, a falta de confiança no trabalho, no governo, nas pessoas e no futuro da nação.

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