Rosa María Torres del Castillo: "A Educação na América Latina é preocupante"


Especialista equatoriana alerta que é preciso investir em mudanças estruturais no sistema educacional, tendo como foco prioritário a valorização da carreira docente e a aprendizagem dos alunos


Rosa María Torres del Castillo. Foto: Marina PiedadeEm visita recente ao Brasil, a educadora Rosa María Torres del Castillo visitou uma escola pública. Conversou com os gestores, os professores e os alunos e assistiu às aulas. É assim que a diretora do Instituto Fronesis de Pedagogia e Comunicação, em Quito, gosta de colher impressões sobre a realidade. "Não aprendo sobre Educação só com livros. Gosto de conhecer o dia a dia das instituições educacionais e escrever sobre elas nos blogs que mantenho", diz.

Durante a entrevista para NOVA ES­­COLA, ela explicou os motivos que tem para se sentir tão descontente com o cenário atual do ensino. Para Rosa María, que já foi ministra da Educação no Equador e esteve à frente de cargos importantes em organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o que mais a impressiona é constatar que os avanços na área nos últimos 40 anos foram muito pou­cos. Ela também aponta alguns caminhos para renovar o cenário, especialmente no que diz respeito à realidade latino-americana. 

É possível fazer um balanço da situação atual do ensino nos países da América Latina?
ROSA MARÍA TORRES DEL CASTILLO 
A situação é muito preocupante. Desde a adolescência, estou envolvida com a questão e minha percepção é a de que os resultados alcançados em Educação são insatisfatórios e deveriam provocar a cólera da sociedade. Mesmo com todas as políticas implementadas, com todo o orçamento investido e com toda a atenção que dizem ser dispensada ao assunto, as mudanças efetivas são pouquíssimas. Para mim, estão se concretizando tendências ruins na América Latina. 

Na sua opinião, quais são as prioridades para melhorar a situação?
ROSA MARÍA 
A principal é investir em políticas continuadas com o objetivo de educar, e não só informar. Hoje, temos contato com muita informação, mas nem sempre ela se transforma em conhecimento. É necessário um olhar externo para a escola para fazer uma mudança efetiva no sistema e organizar um diálogo com a sociedade. A família, por exemplo, é um sistema de aprendizagem importantíssimo. Então, uma mudança na Educação precisa envolver a família. Da mesma forma, os meios de comunicação educam ou deseducam, embora muita gente não os veja assim. Pouco pode fazer o professor se a mídia educa as crianças no sentido contrário do desejado. Os sistemas políticos também são sistemas de aprendizagem e, se eles são corruptos e os cidadãos sabem disso e aceitam, educa-se na (e para a) corrupção. Nesse contexto, pouco pode fazer a escola com um programa de valores éticos. Quando falamos em prioridades, me parece fundamental romper com essa visão de que a Educação é feita só na escola e pensar na sociedade como educadora. 

Há um esforço de colaboração entre os países latino-americanos, com tro­­cas de experiências educacionais. Esse intercâmbio não tem favorecido algum avanço na área? 
ROSA MARÍA 
A meu ver, há muitas instâncias de colaboração, formais e informais. No entanto, esse contato só tem permitido que as nações repitam os erros umas das outras. Além disso, creio que a interação real e verdadeira ainda seja pequena, embora estejamos na era das tecnologias. São muito raras as experiências de debate de conhecimento e não só de opiniões. Precisamos avançar. A palavra central, quando se fala em Educação, é mudança. Não acredito em melhorar a situação, mas em promover uma mudança estrutural séria. E o que vejo todos os países latinos fazendo é investir em estratégias somente para melhorar. Eles investem um pouco mais, capacitam um pouco mais, melhoram a infraestrutura um pouco mais, compram computadores um pouco mais, aumentam o salário dos professores um pouco mais... O modelo é o mesmo de 30 anos atrás e a pedagogia, que é o fundamental, não recebe a devida atenção. Assim, nada muda. 

Há iniciativas em curso na América Latina que no futuro podem se concretizar como mudanças efetivas? 
ROSA MARÍA 
Todos os países estão fazendo a mesma coisa: investindo em avaliações nacionais, em provas que analisam exatamente as mesmas coisas e em rankings. É como se um copiasse o outro. O Chile começou e todos os demais o seguiram. Só que os chilenos fazem avaliações há 25 anos e não houve mudanças significativas. Isso mostra que os sistemas de avaliação, isoladamente, são ineficazes. Se não há medidas concretas para fazer frente a todos os problemas que essas provas mostram, nada muda. A maioria dos países tem provas nacionais. Alguns convertem os resultados em materiais de capacitação para os professores e classificam as escolas em rankings. Nada disso contribui para a qualidade do ensino. Essas provas também avaliam os docentes e isso só faz com que eles se sintam cada vez mais controlados. É um sistema punitivo. O que deve ser feito pelos docentes com a avaliação pode ser feito sem ela, que é capacitá-los. Na parte de infraestrutura, também não há nada que me chame a atenção. Investe-se em novas obras, mas elas seguem o modelo antigo. Os prédios parecem hospitais e não lugares destinados à aprendizagem. Há ainda outra tendência: as chamadas escolas de excelência. Acho esse tipo de solução elitista e discriminatória.

Continue lendo a entrevista aqui na Revista Escola

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