Eventual saída de Roger Agnelli não deverá prejudicar imagem da Vale


Executivos e analistas de mercado acreditam que a troca de comando na mineradora faz parte de um processo natural

A notícia de que Roger Agnelli deve deixar a presidência da Vale em abril, conforme antecipou o colunista do iG Guilherme Barros, foi recebida pelo mercado com relativa tranqüilidade neste final de semana. Executivos e analistas ouvidos pelo iG acreditam que a troca de comando não deverá causar estragos significativos no valor das ações da companhia ou em sua imagem institucional. Em que se pese o desentendimento do executivo com o governo, a leitura feita pelo mercado é de que a saída de Agnelli faz parte de um processo natural em uma grande companhia de capital aberto.

“O Roger fez e ainda está fazendo um trabalho espetacular no comando da Vale. Mas, nenhum executivo, em empresa alguma, é uma unanimidade. Sendo assim, não é de se espantar que, após 10 anos no cargo, alguns sócios e investidores estejam insatisfeitos”, diz Wilson Brumer, ex-presidente da Vale .
Os rumores sobre uma possível saída de Agnelli começaram no mês de outubro. O iG antecipou que os acionistas da mineradora já estavam em discussões sobre a sucessão de Agnelli no fim do ano passado. Pesaram contra o executivo as críticas que ele fez ao Partido dos Trabalhadores, quando disse que a Vale era alvo de “jogo político” no governo Lula.
 Para Brumer, que trabalhou na mineradora por 17 anos e ocupou a presidência da companhia entre 1990 e 1992, a substituição de Agnelli não deverá prejudicar a imagem da empresa. “A Vale é uma empresa sólida. E certamente o substituto de Roger será um executivo à altura do trabalho que ele vem desenvolvendo”, afirma. Cotado para assumir o cargo, Brumer, que hoje ocupa a presidência da Usiminas, diz se divertir com os rumores: “Prefiro ocupar o ‘cargo’ de ex-presidente”.
Segundo Leandro Lambert, consultor financeiro da Biart Consultoria, a saída de Agnelli faz com que a Vale perca o “arrojo” do executivo. “Ele é um dos visionários do mercado”, diz. Lambert pontua, por outro lado, que o processo de substituição de comando não afetará a administração da companhia. “Em um mercado como o de hoje, os executivos são altamente gabaritados. Não teremos mudanças drásticas, mas veremos as incertezas normais que uma troca de presidente desse porte gera”.
Governança corporativa favorece Vale
 Na opinião do diretor de uma corretora de valores que prefere não se identificar, o mercado está tranqüilo. “Se confirmada, a saída de Agnelli acontecerá ao final de seu mandato, o que não é incomum em companhias do porte da Vale. Da mesma forma que ele foi reconduzido ao cargo em outras ocasiões, chegou o momento de os acionistas decidirem por uma substituição”, afirma. Ele acrescenta ainda que choques entre CEOs de grandes empresas e seus respectivos governos são naturais não só no Brasil, mas em todos os países do mundo.
Questionado a respeito do possível impacto sobre as ações da empresa diante dos rumores de que a saída do executivo estaria ligada puramente a questões políticas, ele demonstra tranqüilidade. “A Vale tem práticas consistentes de governança corporativa, o que afasta a possibilidade de o governo intervir diretamente em sua gestão”, diz. Para justificar sua posição, ele cita o fechamento da Bolsa na última sexta-feira, quando as ações da mineradora mantiveram-se praticamente estáveis .
Leandro Lambert, por sua vez, lembra que os preços das ações já passaram pela oscilação provocada pelos rumores sobre a troca de presidente.  “Os papéis da Vale não deverão mais sofrer tanto, porque já oscilaram nos últimos dias com os boatos. Vamos acompanhar quais serão os primeiros passos do novo presidente, que não deve fazer nada de anormal. Assim, é bem capaz que a Vale retome um rumo de alta novamente.”
O temor de que a saída de Roger Agnelli possa interromper a trajetória de excelentes resultados conquistados pela companhia nos últimos anos tampouco parece atingir o mercado. Segundo um analista especializado no setor de mineração, não há dúvidas sobre a competência do executivo. Mas, é preciso lembrar que a Vale foi favorecida pela conjuntura internacional. “Todas as empresas de commodities do mundo – e não apenas as mineradoras – vêm registrando resultados espetaculares nos últimos anos. E a troca de comando na Vale não deve alterar isso”, afirma.
Se os impactos da troca de comando na imagem da Vale não devem ser significativos, o mesmo não pode-se dizer sobre o ambiente de negócios no Brasil. O professor de economia da ESPM Frederico Turolla diz que este “é um péssimo momento” para a saída de Agnelli da Vale. “O País vem encurtando posições no cenário internacional. O deslumbramento como Brasil já passou. Esse tipo de substituição só tende a tornar o ambiente de negócios mais inseguro.” 

Ele pontua que o “estrago” virá tanto no investimento estrangeiro direto quanto nos aportes do próprio mercado interno, por conta da insegurança com relação ao ambiente de negócios no Brasil. “O País perde em segurança jurídica.”

Turolla diz, ainda, que a indicação de nomes vindos da própria Vale para assumir o posto de Agnelli não minimiza o impacto negativo da troca. “O processo de substituição é que é o problema e não o nome a ser indicado”, completa. 
Pedido de demissão coletiva 
Os analistas chamam a atenção para o fato de que os principais executivos da Vale se recolheram, abstendo-se de fazer qualquer comentário em público. Para um executivo que integra conselhos de administração de empresas do porte da Vale, é nítido que há uma guerra interna entre os que apóiam o executivo e os que manobram para sua saída.
Entretanto, ele duvida muito que os diretores da empresa partam para um pedido de demissão coletiva após a destituição de Agnelli. “Isso não existe. Pode até ser que um ou outro integrante do alto escalão, que tenha maior afinidade com ele, deixe a companhia. Mas é improvável que esse movimento seja seguido por muitos diretores. Altos executivos estão mais do que acostumados às trocas de comandos”, afirma.
Trajetória
Formado em Economia pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Roger Agnelli iniciou sua carreira no Bradesco, em 1981, onde ficou até o ano 2000. Lá, chegou ao cargo de diretor executivo, em 1998.
Em 2001, assumiu a presidência da então Companhia Vale do Rio Doce – nome que a empresa usou até 2008, quando passou a ser chamada apenas de Vale. Durante a gestão de Agnelli, a mineradora saiu de um lucro de R$ 8 bilhões para R$ 30 bilhões.
No ano passado, a produção de minério de ferro da Vale atingiu o patamar recorde de 307,7 milhões de toneladas métricas, um crescimento de 24,9% frente ao observado em 2009 e de 1,5% em relação ao recorde anterior (303 milhões de toneladas), registrado em 2007.
Sob o comando de Agnelli, a Vale oficializou a compra da Ferteco, em 2002, e da Caemi, em 2003. Três anos mais tarde, a companhia anunciou a compra da canadense Inco, em um negócio avaliado em cerca de US$ 18 bilhões. A fusão fez com que a mineradora brasileira assumisse o posto de segunda maior empresa do setor no mundo, atrás apenas da anglo-australiana BHP Billiton.

IG - Economia

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