Biodiversidade em perigo

Há 18 anos, na Rio-92, delegados de 193 países concordaram em firmar um instrumento para proteger a biodiversidade - a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). Os resultados foram pífios. Em 2002, a maioria dos signatários anunciou novas medidas para alcançar uma redução significativa da perda de biodiversidade até 2010, incluindo a proteção de 10% dos habitats nacionais e compromissos pela conservação. Segundo estudo do World Wildlife Fund (WWF), houve outro estrondoso fracasso.
Esta semana, essas nações estão outra vez reunidas, agora em Nagoia, Japão, na chamada COP-10 - uma nova oportunidade para se redimir, embora danos irreversíveis já tenham acontecido nestes quase 20 anos de pouca ou nenhuma ação. O objetivo primordial da conferência é elaborar um novo plano estratégico de 20 pontos para o período 2011-2020, estabelecendo metas para conservação e uso sustentável da biodiversidade. Os delegados também tentam finalizar um protocolo definindo os benefícios compartilhados dos recursos genéticos mundiais.
As notícias de Nagoia não são animadoras. Já se admite que a reunião pode terminar num fracasso similar ao da conferência sobre o clima em Copenhague, em dezembro de 2009 (COP-15). O que projetaria nuvens negras de desânimo sobre a Conferência Climática de Cancún, a partir de 29 de novembro, continuação da COP-15. Fracassos em Nagoia e Cancún significarão sério revés nos esforços dos últimos anos para amenizar as mudanças climáticas e deter a perda da biodiversidade do planeta. As consequências para as próximas gerações seriam dramáticas. Todos os indicadores mostram que os países pobres estão usando hoje seus recursos naturais de forma mais intensiva que em 1992, assim como os países ricos estão causando mais danos ao meio ambiente. Como resultado, a vida no planeta está sendo submetida a pressões perigosas.
Recentes estimativas dão conta de que 20% das espécies vegetais e dos mamíferos estão ameaçados de extinção em futuro próximo. Os números para corais e animais anfíbios são ainda piores. Desde 1992, a área de floresta tropical perdida equivale ao tamanho do Estado da Califórnia, informou o "New York Times".
Em Nagoia, o Brasil e outros países ricos em biodiversidade têm interesse especial na adoção de um protocolo de regras para o acesso e repartição de benefícios da exploração de recursos genéticos. Se não houver acordo sobre esse ponto, e o Brasil, apoiado por outros países em desenvolvimento, levar à frente a ameaça de não aprovar outros temas, será o fracasso total da conferência. Ecologistas e políticos concordam que os ecossistemas do planeta estão em crise. Houve perdas alarmantes em habitats naturais (pântanos, geleiras, superfícies salgadas, barreiras de coral), espécies vertebradas (um terço nos últimos 35 anos) e diversidade genética.
Ninguém espera negociações fáceis ou acordos rápidos nessas discussões. Por isso mesmo, as conferências sobre clima e biodiversidade devem ganhar um caráter permanente, para que os países possam desenvolver áreas de entendimento, antes que seja tarde demais.

Fonte:
O Globo

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