Ecos do debate sobre Carajás
Embora já alguns dias já tenham se passado, é bom lembrar que o debate na Universidade Federal do Pará (UFPA) foi um belo gol marcado pelo time da emancipação do Carajás na casa do adversário.
Num ambiente hostil ao movimento e diante da tradicional irreverência de universitários, o deputado federal Giovanni Queiroz enfrentou e venceu o também deputado Arnaldo Jordy, erudito e um dos porta-vozes dos “contra”; o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará, Sérgio Couto, escalado para substituir o chefe da Casa Civil, Zenaldo Coutinho; e deu pouca importância para a curiosa declaração do mediador, Eduardo Costa, presidente do Conselho Regional de Economia do Pará (Corecon), que logo de cara confessou ser contra a criação de novos estados.
Giovanni Queiroz explicou que a população do Carajás, distante e inalcançável pelas políticas públicas, está lutando pelo direito à autonomia administrativa, pelo direito de crescer economicamente e pelo direito aos mesmos índices de desenvolvimento humano e de cidadania que já chegaram a regiões como Mato Grosso do Sul e Tocantins, os últimos dois exemplos de criação de novos estados no Brasil.
Segundo o deputado, além de parceiro natural das novas unidades, o estado-mãe só tem a ganhar com o desmembramento, pois ficará com um território menor (não tanto, porque seus 234.445,23 quilômetros quadrados equivalem ao mesmo tamanho do Estado de São Paulo), mas manterá a fatia mais organizada e mais rentável da economia paraense, estará desonerado de gastos com custeio e investimentos que atualmente é obrigado a bancar para manter as regiões que querem se emancipar e ainda reterá 55,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50,7% do ICMS.
“Não queremos rachar o Pará”, disse Giovanni Queiroz, ao explicar que o movimento do Carajás, ao contrário do que dizem os adversários da autonomia administrativa, é legítimo e visa, no fundo, permanecer ao lado do Pará e de toda a região Norte.
A criação de dois novos estados, lembra o parlamentar, aumenta a bancada no Congresso e dá à região Norte o poder de interferir mais nas decisões políticas nacionais e na distribuição do orçamento federal. O atual Pará passará de 17 para 30 deputados e de três para nove senadores.
A criação de Carajás é viável economicamente. O deputado lembra que estudos feitos pelo economista Célio Costa, o mesmo que fez o levantamento sobre a viabilidade de Tocantins, projeta, em médio prazo, investimentos da ordem de R$ 32,8 bilhões no setor mineral até 2014, o que garantirá a geração de 63.364 empregos na região no mesmo período.
Além disso, o agronegócio, com cerca de 11 milhões de cabeças de boi (9º colocado no ranking nacional), um pólo siderúrgico em franco desenvolvimento e o potencial hidro-energético dão à região eixos promissores para o crescimento econômico e social.
As perspectivas econômicas desmentem a pregação de que o desmembramento geraria três estados carentes ou a “socialização da pobreza”, como dizem os adversários da emancipação.
“Socialismo é igualdade de oportunidade para todos”, frisou Giovanni, explicando que seu partido, o PDT, engajado na luta pela emancipação do Carajás, tem firme compromisso com mudanças radicais na estrutura social do país através da educação.
“É o conhecimento que muda a sociedade. Não há outro instrumento de transformação”, lembrou, dirigindo-se aos estudantes e professores.
A própria UFPA, lembrou o deputado, será importante parceira de Carajás tanto para estruturar a educação superior quanto para ceder profissionais formados nas várias áreas de conhecimento. O Carajás e Tapajós vão precisar, segundo ele, dos profissionais mais qualificados formados em Belém.
Segundo Giovanni Queiroz, a emancipação dará a Carajás autonomia administrativa para aproximar o estado da população, levando os serviços públicos essenciais para superar os problemas sociais e, ao mesmo tempo, impulsionando o desenvolvimento econômico. “Autonomia administrativa é instrumento de transformação de toda a sociedade. A emancipação é viável e o Pará não sofrerá perdas. Também não precisaremos pedir esmola ao governo federal”, garante.
CURIÓ
Escalado para representar o grupo contra a emancipação, o advogado Sérgio Couto, ex-presidente da OAB-PA, deu um tremendo escorregão e acabou revelando todo o preconceito de boa parte dos que são contra Carajás e Tapajós.
Primeiro, citou uma lição que ouviu do ex-prefeito de Curionópolis, Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió (cujo histórico é, no mínimo, controverso), de quem é amigo, sobre os tipos de pessoas que habitavam a região na época do garimpo de Serra Pelada: “Os que fugiam de dívidas, os que fugiam da polícia e os cornos”, disse, parafraseando Curió.
Em seguida, o advogado fez um paralelo comparando as três categorias de gente citadas por Curió com os atuais defensores da emancipação de Carajás que, segundo o senso preconceituoso do advogado, estão classificados entre os “ingênuos, oportunistas e empresários atrás de lucro”.
O deputado Giovanni Queiroz fez questão de responder a Sérgio Couto, repudiando com veemência a forma jocosa e ofensiva com que se dirigiu aos brasileiros do sul e do sudeste do estado, que há anos lutam pelo direito à autonomia e melhor qualidade de vida.
“Nosso povo não é ingênuo nem oportunista. Trabalha de sol a sol, mas não teve oportunidades”, disse o deputado, dirigindo-se ao representante do comitê que não quer a emancipação.
Vaiado e questionado por estudantes sobre a infeliz comparação, Sérgio Couto deixou o debate antes do encerramento, alegando que precisava conhecer um neto que nascera no dia anterior.
(Vasconcelos Quadros) Blog do Waldyr Silva
Num ambiente hostil ao movimento e diante da tradicional irreverência de universitários, o deputado federal Giovanni Queiroz enfrentou e venceu o também deputado Arnaldo Jordy, erudito e um dos porta-vozes dos “contra”; o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Pará, Sérgio Couto, escalado para substituir o chefe da Casa Civil, Zenaldo Coutinho; e deu pouca importância para a curiosa declaração do mediador, Eduardo Costa, presidente do Conselho Regional de Economia do Pará (Corecon), que logo de cara confessou ser contra a criação de novos estados.
Giovanni Queiroz explicou que a população do Carajás, distante e inalcançável pelas políticas públicas, está lutando pelo direito à autonomia administrativa, pelo direito de crescer economicamente e pelo direito aos mesmos índices de desenvolvimento humano e de cidadania que já chegaram a regiões como Mato Grosso do Sul e Tocantins, os últimos dois exemplos de criação de novos estados no Brasil.
Segundo o deputado, além de parceiro natural das novas unidades, o estado-mãe só tem a ganhar com o desmembramento, pois ficará com um território menor (não tanto, porque seus 234.445,23 quilômetros quadrados equivalem ao mesmo tamanho do Estado de São Paulo), mas manterá a fatia mais organizada e mais rentável da economia paraense, estará desonerado de gastos com custeio e investimentos que atualmente é obrigado a bancar para manter as regiões que querem se emancipar e ainda reterá 55,6% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50,7% do ICMS.
“Não queremos rachar o Pará”, disse Giovanni Queiroz, ao explicar que o movimento do Carajás, ao contrário do que dizem os adversários da autonomia administrativa, é legítimo e visa, no fundo, permanecer ao lado do Pará e de toda a região Norte.
A criação de dois novos estados, lembra o parlamentar, aumenta a bancada no Congresso e dá à região Norte o poder de interferir mais nas decisões políticas nacionais e na distribuição do orçamento federal. O atual Pará passará de 17 para 30 deputados e de três para nove senadores.
A criação de Carajás é viável economicamente. O deputado lembra que estudos feitos pelo economista Célio Costa, o mesmo que fez o levantamento sobre a viabilidade de Tocantins, projeta, em médio prazo, investimentos da ordem de R$ 32,8 bilhões no setor mineral até 2014, o que garantirá a geração de 63.364 empregos na região no mesmo período.
Além disso, o agronegócio, com cerca de 11 milhões de cabeças de boi (9º colocado no ranking nacional), um pólo siderúrgico em franco desenvolvimento e o potencial hidro-energético dão à região eixos promissores para o crescimento econômico e social.
As perspectivas econômicas desmentem a pregação de que o desmembramento geraria três estados carentes ou a “socialização da pobreza”, como dizem os adversários da emancipação.
“Socialismo é igualdade de oportunidade para todos”, frisou Giovanni, explicando que seu partido, o PDT, engajado na luta pela emancipação do Carajás, tem firme compromisso com mudanças radicais na estrutura social do país através da educação.
“É o conhecimento que muda a sociedade. Não há outro instrumento de transformação”, lembrou, dirigindo-se aos estudantes e professores.
A própria UFPA, lembrou o deputado, será importante parceira de Carajás tanto para estruturar a educação superior quanto para ceder profissionais formados nas várias áreas de conhecimento. O Carajás e Tapajós vão precisar, segundo ele, dos profissionais mais qualificados formados em Belém.
Segundo Giovanni Queiroz, a emancipação dará a Carajás autonomia administrativa para aproximar o estado da população, levando os serviços públicos essenciais para superar os problemas sociais e, ao mesmo tempo, impulsionando o desenvolvimento econômico. “Autonomia administrativa é instrumento de transformação de toda a sociedade. A emancipação é viável e o Pará não sofrerá perdas. Também não precisaremos pedir esmola ao governo federal”, garante.
CURIÓ
Escalado para representar o grupo contra a emancipação, o advogado Sérgio Couto, ex-presidente da OAB-PA, deu um tremendo escorregão e acabou revelando todo o preconceito de boa parte dos que são contra Carajás e Tapajós.
Primeiro, citou uma lição que ouviu do ex-prefeito de Curionópolis, Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió (cujo histórico é, no mínimo, controverso), de quem é amigo, sobre os tipos de pessoas que habitavam a região na época do garimpo de Serra Pelada: “Os que fugiam de dívidas, os que fugiam da polícia e os cornos”, disse, parafraseando Curió.
Em seguida, o advogado fez um paralelo comparando as três categorias de gente citadas por Curió com os atuais defensores da emancipação de Carajás que, segundo o senso preconceituoso do advogado, estão classificados entre os “ingênuos, oportunistas e empresários atrás de lucro”.
O deputado Giovanni Queiroz fez questão de responder a Sérgio Couto, repudiando com veemência a forma jocosa e ofensiva com que se dirigiu aos brasileiros do sul e do sudeste do estado, que há anos lutam pelo direito à autonomia e melhor qualidade de vida.
“Nosso povo não é ingênuo nem oportunista. Trabalha de sol a sol, mas não teve oportunidades”, disse o deputado, dirigindo-se ao representante do comitê que não quer a emancipação.
Vaiado e questionado por estudantes sobre a infeliz comparação, Sérgio Couto deixou o debate antes do encerramento, alegando que precisava conhecer um neto que nascera no dia anterior.
(Vasconcelos Quadros) Blog do Waldyr Silva
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