Carlos Drummond de Andrade   Preso à minha classe e a algumas roupas,  Vou de branco pela rua cinzenta.  Melancolias, mercadorias espreitam-me.  Devo seguir até o enjôo?  Posso, sem armas, revoltar-me'?   Olhos sujos no relógio da torre:  Não, o tempo não chegou de completa justiça.  O tempo é ainda de fezes, maus poemas,  alucinações e espera.  O tempo pobre, o poeta pobre  fundem-se no mesmo impasse.   Em vão me tento explicar, os muros são surdos.   Sob a pele das palavras há cifras e códigos.  O sol consola os doentes e não os renova.  As coisas. Que tristes são as coisas,  consideradas sem ênfase.   Vomitar esse tédio sobre a cidade.  Quarenta anos e nenhum problema  resolvido, sequer colocado.  Nenhuma carta escrita nem recebida.  Todos os homens voltam para casa.  Estão menos livres mas levam jornais  e soletram o mundo, sabendo que o perdem.   Crimes da terra, como perdoá-los?  Tomei parte em muitos, outros escondi.  Alguns achei belos, foram publicados.  Crimes suaves, qu...