Cinco dias de protestos antigoverno na Líbia já mataram quase cem; brasileiros são retirados


TRÍPOLI - Forças de segurança abriram fogo durante um funeral no sábado na cidade de Benghazi, segunda maior da Líbia, informou a rede al-Jazeera, deixando ao menos 15 pessoas mortas. Um médico da cidade, centro dos protestos contra o líder Muammar Kaddafi que está há quatro décadas no poder, disse à rede de tevê árabe que 15 corpos chegaram ao hospital onde trabalha, além de feridos.
- Este não é um hospital bem equipado e esses feridos vêm em ondas. Todas as lesões são sérias, na região da cabeça, peito e abdome. São ferimentos de bala de rifles de alta velocidade - afirmou o médico.
Uma testemunha, no entanto, diz que não foram só 15 mortos hoje, e sim dezenas.
-Dezenas foram mortos ... não 15, mas dezenas de pessoas. Estamos no meio de um massacre aqui - afirmou o homem, que não quis se identificar. Ele afirmou ter levado as vítimas para um hospital local.
Segundo organizações de direitos humanos, as mortes de hoje elevaram o total de mortos para 99 nos últimos cinco dias, resultado de uma intensa operação de repressão em resposta aos protestos conta o governo que procuram seguir os passos de revoltas nos vizinhos Egito e Tunísia. Forças do governo também reprimiu um outro protesto e apertou o cerco sobre o serviço de Internet em toda a nação norte-africana.
Um morador da cidade disse que as forças de segurança estavam confinadas em um Centro de Comando, de onde atiradores disparavam contra manifestantes na cidade de Benghazi, que fica a mil quilômetros a leste da capital, onde o apoio a Kaddafi é tradicionalmente menor do que no restante do país.
- Eles mataram três manifestantes daquele prédio hoje - declarou a testemunha, que não quis se identificar, à Reuters. -No momento, a única presença militar em Benghazi está confinada ao Comando Central da cidade. O restante da cidade está liberado - disse.
A testemunha disse ainda que não há escassez de comida, embora nem todas as lojas estejam abertas. Os bancos estão fechados.
- Todos os escritórios do comitê revolucionário (governo local) e delegacias de polícia da cidade foram queimados - afirmou.
O relato não pode ser confirmado de forma independente. Uma fonte do aparato de segurança ofereceu uma versão diferente, dizendo que a situação na região de Benghazi está "80% sob controle".
O embaixador brasileiro na Líbia, George Ney de Souza Fernandes, informou à TV Globo que todos os 123 brasileiros - funcionários da empresa Queiróz Galvão - Em Benghazi estão bem. Segundo ele, 40 brasileiros e parentes serão levados para Trípoli e de lá poderão retornar ao Brasil.
Em Londres, o ministro britânico das Relações Exteriores, William Hague, disse que tinha relatos de que armas de fogo pesadas e unidades de atiradores de elite estão sendo usados contra os manifestantes. "Isto é claramente inaceitável e horripilante", disse em um comunicado.
O jornal privado Quryna, sediado em Benghazi e que já foi ligado a um dos filhos de Kaddafi, afirmou que 24 pessoas foram mortas na cidade na sexta-feira, e que forças de segurança abriram fogo para deter manifestantes que atacavam o quartel-general da polícia e uma base militar onde armas estavam guardadas.
-Os guardas foram forçados a usar balas de verdade - informou o diário.
O governo não divulgou nenhuma cifra de vítimas nem fez comentários oficiais sobre a violência.
Um grupo de 50 acadêmicos religiosos líbios apelaram pelo fim da violência. Uma cópia do libelo foi fornecida à Reuters.
Longe da região sul, a Líbia parecia calma. Na Praça Verde, no centro de Trípoli, próximo da antiga cidade murada, centenas de pessoas se reuniram portando fotos de Kaddafi e entoando "Nosso líder revolucionário!" e "Seguimos o seu caminho", relatou um repórter da Reuters.
Um jornal estatal disse que a violência é parte dos "plano sujos e das conspirações concebidas pela América e pelo sionismo e pelos traidores do Ocidente".
Observadores da Líbia dizem que uma revolta no estilo do Egito é improvável, porque Kaddafi tem dinheiro do petróleo para aliviar os problemas sociais, e ainda é respeitado em grande parte do país.

O Globo

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