Dengue: mobilizar para enfrentar


(*) Alexandre Padilha
Após mais de 20 anos de convivência com a dengue, poucos se dão conta da complexidade da doença, que segue como um dos principais desafios da saúde pública no Brasil. Com 80% da população vivendo em áreas de clima tropical, intenso crescimento populacional nos centros urbanos, ocupação desordenada do solo e a persistência de certos problemas de infraestrutura, como abastecimento irregular de água, temos ainda um cenário favorável à reprodução do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. 

No começo do ano, as altas temperaturas e as chuvas agravam o quadro de risco. Por isso, a dengue foi eleita prioridade do Ministério da Saúde no início de 2011, mas com a percepção de que seu enfrentamento exige uma abordagem multissetorial. Lidamos com um inseto que, por estar adaptado ao ambiente urbano, vive dentro de nossas casas. Encaramos, portanto, o desafio de envolver outros setores para que a população adquira o hábito de eliminar todos os possíveis criadouros do Aedes nas residências.

Por determinação da presidenta Dilma Rousseff, o Ministério da Saúde mantém o protagonismo da estratégia de combate à dengue, mas conta com a colaboração direta de outros 13 ministérios e órgãos federais, cujas políticas estão sendo articuladas, em parceria com estados e municípios, para reduzirmos a presença do mosquito nos lares brasileiros.

O mapa de risco da doença para o verão de 2011 mostra 16 estados em alto risco de epidemia. Elegemos 70 municípios prioritários, com base em critérios populacionais e no cenário epidemiológico do fim de 2010. Nestes locais, o monitoramento tem sido constante, inclusive com minha participação pessoal em mobilizações com governantes e lideranças locais.

Além do empenho pela prevenção, estamos trabalhando pela melhora na assistência aos doentes, que, se prestada adequadamente, minimiza o risco de agravamento e até mesmo de óbitos dos pacientes. 

Ainda em janeiro, editamos portaria determinando a notificação em até 24 horas de casos graves e mortes suspeitas por dengue, relançamos a campanha no rádio e na tevê, enviamos mensagens de texto para celulares e intensificamos a distribuição de material gráfico. Afinal, mudar o comportamento dos cidadãos requer o reforço na orientação sobre os sintomas e a eliminação de criadouros do mosquito.

Neste momento, enfrentamos um verão com menos casos e mortes por dengue: redução em torno de 60%, no comparativo entre os meses de janeiro de 2011 e 2010. Porém, ainda não é hora de comemorar: temos à frente mais dois ou três meses de chuvas e altas temperaturas, dependendo da região. 

Se, por um lado, o engajamento traz resultados positivos, por outro sabemos que o enfraquecimento das medidas de prevenção pode, rapidamente, concretizar o mapa de risco. A hora, portanto, é de reforçar a mobilização. 

(*) É ministro da Saúde

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