Educação audiovisual estimula pensamento científico

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Educação audiovisual pode ser um diferencial na educação brasileira, principalmente nas periferias. De acordo com um estudo realizado na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, os alunos são livres para gravar e mudar parâmetros como luz, foco ou distâncias, depois analisam e comparam os resultados. 

“É um estímulo ao pensamento científico. Aos poucos surge um pensamento crítico-analítico em que cada conceito na linguagem audiovisual é formado ou reformulado por meio de uma compreensão natural”, conta a cineasta Moira Toledo, autora da tese de doutorado Educação Audiovisual Popular no Brasil: Panorama, 1990-2009, defendida em 2010. 

Segundo o estudo, 80% das entidades que desenvolvem projetos de Educação Audiovisual Popular (EAP) o fazem sob a ótica de uma educação democrática e libertária. 

A Educação Audiovisual Popular (EAP) é a atividade educativa gratuita, promovida por uma entidade ou agremiação informal de pessoas, voltada, entre outros objetivos, ao ensino dos meios de realização audiovisual especialmente para cinema. O público-alvo destas atividades são jovens moradores de bairros urbanos localizados em bolsões de pobreza, ou grupos socialmente marginalizados, tais como comunidades indígenas e quilombolas, portadores de necessidades especiais, frequentadores de Centros Psicossociais (CAPS e CAPS/AD), dentre outros. 

Neste contexto, educadores constroem o que a cineasta denomina – em consonância com Dagmar Garroux (Da Casa do Zezinho) - “pedagoDia”, que se traduz em um método “sem método”, construído cotidianamente, num processo de aperfeiçoamento das práticas pedagógicas a partir de experiências vivenciadas a cada dia. 
Metodologia e pesquisa 
Para realizar a pesquisa, Moira estudou entidades que tinham como foco central o audiovisual; o desenvolvimento prático e experimental de metodologia original; características artísticas, e entidades de formação de jovens autônomos e empreendedores neste campo. 

As entidades foram mapeadas inicialmente durante o processo de construção do banco de dados da seção KinoOikos Formação do Olhar do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, organizado pela Associação Cultural Kinoforum. Na parte não presencial da pesquisa, foram realizados quatro questionários. O primeiro questionário mapeou as entidades e delimitou dados como localização, perfil, contato e público da entidade; os outros três questionários tiveram como objetivo diversificar os pontos de vista sobre as entidades e projetos levantados a partir da percepção de coordenadores, educadores, alunos e ex-alunos.Todos os questionários foram preenchidos por um profissional designado livremente por cada entidade. 

A segunda parte da pesquisa, realizada presencialmente e registrada em vídeo, consta de 21 entrevistas, com 30 diferentes profissionais e alunos, escolhidos por meio de diálogos com os representantes das entidades nas cidades de Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, entre fevereiro e agosto de 2009. A escolha das entidades considerou o compromisso central, efetivo e contínuo com a Educação Audiovisual Popular; o desenvolvimento intuitivo ou sistematizado de uma metodologia original de ensino audiovisual popular; a qualidade artística dos vídeos, atestada pela participação em festivais e exibições públicas; a notória qualidade na formação de jovens autônomos e empreendedores. 

Houve ainda, duas entrevistas coletivas com grupos de alunos (no Cinema Nosso, no Rio de Janeiro) e de educadores (na Oficina de Imagens, em Belo Horizonte). 
Educação libertária e democrática 

Pedagogicamente, Moira pôde perceber que em alguma medida “desaparece o professor – enquanto autoridade distanciada do aluno – para surgir um professor acessível que valoriza tanto a participação quanto o desenvolvimento de responsabilidade e autonomia do aluno”. 

Não existe a padronização de educadores e coordenadores dos projetos. Segundo a pesquisa, foram detectados “cineastas, comunicadores, artistas plásticos, professores de escolas públicas, psicólogos, antropólogos, pedagogos, assistentes sociais, fotógrafos, arquitetos, publicitários, dentre outros”. 

Moira ressalta que “esta diversidade e o envolvimento dos próprios alunos gera uma convivência rica em diálogos e críticas, e os alunos são impelidos a lidar com seus sentimentos, talentos e defeitos, além de serem obrigados a aprender na prática que a crítica se destina ao trabalho e não à pessoa”. 

A pesquisa ainda destaca forte predominância de autores e métodos ligados à herança das educações democrática e libertária, sendo o educador Paulo Freire um dos autores mais citados. Segundo a pesquisadora, “nota-se que Freire surge com diferentes profundidades de diálogo com o cotidiano de cada projeto, estimulando a participação, a curiosidade e a pesquisa na formação de projetos pedagógicos que valorizam o papel do educador e oferecem contribuições interessantes, viáveis e alternativas aos métodos atuais empregados nas escolas formais. 
Produções no Brasil 

De acordo com o estudo existem 113 entidades no Brasil que desenvolvem projetos audiovisuais; 76,5% na região sudeste e 33,5% nas demais regiões . Nos últimos vinte anos, foram realizadas ao menos 3300 produções audiovisuais de curta e média-metragem a maior parte, por jovens da periferia. 

Ainda segundo a cineasta, “o Brasil é uma liderança na produção de tecnologias de educação para as mídias (internacionalmente mais conhecida como Media Literacy), porém necessita do surgimento de políticas públicas de incentivo que, aliadas às iniciativas do terceiro setor, possam fomentar projetos que dêem conta dos eixos centrais dos projetos vinculados à EAP: a gestão (compartilhada por professores e alunos), o espaço (ambientes agradáveis que estimulem a convivência), a adesão (alimentação durante o período do curso, auxílio-transporte e bolsa de estudos) e a interação (liberdade de atuação e estímulo à experimentação pedagógica, exploração)”.

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