O que está por trás da saída de Roger Agnelli


O estilo profissional de gestão na Vale desagrada ao Palácio do Planalto, que gostaria de ver a empresa mais alinhada aos interesses políticos.
A lua de mel com o governo acabou há mais de dois anos, quando a Vale cometeu o pecado mortal – na visão do Planalto – de demitir funcionários em meio à crise internacional, em vez de negociar e contribuir para a ação anticíclica comandada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Mas foi agora, na gestão Dilma Rousseff, que o presidente da empresa, Roger Agnelli, azedou de vez as relações que tinha em Brasília. Agnelli , que costumava frequentar palanques ao lado de Lula e era citado de forma carinhosa nos discursos presidenciais até 2008, hoje tem portas fechadas no Palácio do Planalto.
Para não se envolver diretamente – pelo menos em público –, Dilma determinou que o assunto fosse tratado pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
Ele e o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, são hoje os únicos interlocutores de Agnelli no governo. “O desgaste com o governo anterior vazou para este”, diz um auxiliar da presidente.
A fritura de Agnelli, que está no comando da Vale  há dez anos e tem mandato até 30 de abril, ficou mais evidente na semana passada, quando o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, cobrou em público uma solução para o impasse entre a empresa e os municípios mineradores, que cobram cerca de R$ 5 bilhões da empresa, resultado de formas diferentes de calcular os royalties. “Vocês publicam um balanço com R$ 30 bilhões de lucro e não querem pagar R$ 4 bilhões?”, disse o ministro a Agnelli, na segunda-feira 14.
A orientação de endurecer foi dada a Lobão por Dilma, numa reunião na Quarta-Feira de Cinzas. Agnelli não reconhece a dívida e diz que o assunto ainda está sendo discutido na Justiça.
“Queremos que a Vale pague o débito, aceite a nova Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) e aumente a responsabilidade social nas cidades onde atua”, disse à DINHEIRO o presidente da Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib), Anderson Cabido, prefeito de Congonhas do Campos (MG) pelo PT.
A nova Cfem, que ainda será enviada ao Congresso, altera a base de cálculo dos royalties da mineração e deve aumentar em 150% o valor pago pelas empresas.
O episódio da semana passada deixou claro o isolamento de Agnelli, que nos bastidores é acusado por pessoas ligadas ao governo de arrogância na condução da maior empresa privada do País, mas o descontentamento com a gestão profissional que ele imprimiu à empresa  é mais antiga.
Na avaliação do Planalto, Agnelli comanda a empresa olhando apenas para os acionistas, sem pensar nos interesses do País. Dilma, a exemplo de seu antecessor, gostaria de ver a Vale investindo mais em siderúrgicas, e não apenas extraindo e exportando minério de ferro e outros minerais.
A empresa não concorda que a atual estratégia esteja errada. “Exportar minério é bom para a companhia e bom para o País”, disse à DINHEIRO Fábio Spina, diretor global, jurídico e de relações institucionais da Vale. “Nossas exportações são de US$ 23 bilhões, mais do que o superávit do País.”
Se desagrada ao governo, a gestão técnica é aprovada pelo mercado, que não simpatiza com uma substituição neste momento, por entender que seria uma prova de ingerência política numa empresa que, no ano passado,  teve lucros recordes e distribuiu US$ 3 bilhões em dividendos.
Desde 2001, quando Agnelli assumiu a direção da mineradora, seu valor de mercado  saltou de US$ 10 bilhões para US$ 158 bilhões. “A maior parte do lucro na cadeia produtiva está no minério”, diz Leonardo Alves, analista de mineração da corretora Link. “Não faz tanto sentido investir em aço.”
Para ele, portanto, a estratégia da empresa, de apostar na exportação de minério, está correta. A resposta da Vale às críticas de que não investia no Brasil foi a divulgação, ainda em outubro do ano passado, de um plano de investimento de US$ 24 bilhões, dos quais 63,8% serão aplicados no Brasil.
Para substituir Agnelli, o governo precisa superar dois desafios: convencer os sócios a concordar com a troca e encontrar um substituto que, embora recebendo ordens do Planalto, convença o mercado de sua independência.
A operação é necessária porque, ao contrário da Petrobras, onde a União detém o controle acionário, na Vale o governo tem o maior bloco de ações, mas não a maioria. Quatro fundos de pensão de estatais (Previ, Funcex, Petros e Fundação Cesp) têm, juntos, 49% da Valepar, holding que controla 53,5% do capital votante da empresa.
A outra metade está em poder da  BNDESPar, Bradesco e a siderúrgica japonesa Mitsui. Em 2001, um acordo de acionistas entre os fundos, o BNDES e o Bradesco garantiu a indicação de Agnelli. Agora, circula a informação de que o Bradesco já teria concordado com o seu desembarque do posto. Será ?
Fonte: Revista Isto É Dinheiro

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