A batalha discursiva pelo Código Florestal
O Brasil vive o tema do meio ambiente de forma caótica e contraditória. Por um lado temos, pela ótica do desenvolvimento sustentável, um dos mais avançados códigos ambientais do mundo. De outro, vive-se o resplendor do setor primário a ocupar enormes extensões de terras e voltando sua produção para os mercados externos.
Esta tensão se reflete no seio do governo Dilma, divide as bases sociais organizadas no campo (a exemplo dos choques entre Contag e Via Campesina) e estoura num relatório pró-latifúndio assinado por um ex-guerrilheiro do Araguaia.
Se há algum mérito na proposta do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B/SP), visando à alteração do Código Florestal, este é o de escancarar posições dentro do governo e na luta pela legitimação social. Comecemos pela segunda.
O modelo hegemônico (mas não majoritário) de produção primária enxerga-se como a agricultura de modo empresarial, operando com conceitos tão sofisticados como a tecnologia de solo utilizada pelos pouquíssimos fabricantes de fertilizantes operando no Brasil.
Daí faz-se um óbvio e falso contraponto. O agronegócio, ou o agribusiness como tanto gostam os aderidos ao mono-cultivo, ocupa enormes extensões de terra voltada para a exportação, é denominado de “moderno”. Portanto, por esta construção discursiva, a forma de produção de base familiar voltada para o consumo direto da população do entorno é “arcaica”.
Assim, o discurso torna superficial o debate de modus vivendi no campo, associando o latifúndio e os alimentos geneticamente modificados a um futuro imediato próspero e promissor.
Já o lado oposto, segundo este mesmo ponto de vista, além de projetar assentamentos em forma de “favelas rurais”, alia-se aos chamados de “eco chatos” e não contribui para o “progresso” do país, criminalizando o “Brasil que produz”.
Já dentro do governo, cujo leque de alianças vai da direita agrária à agricultura familiar e camponesa, o projeto de Rebelo opera tal como canto de sereia, gerando tanto adesismos conservadores elogiando a postura “madura” de Aldo, assim como escancara a opção preferencial do Planalto pelo latifúndio e a agricultura de resultado na balança comercial.
Entre clichês e chavões, a indústria da exportação de grãos e adjacências vai ganhando o debate societário, criando políticas de tipo fato consumado. Se o projeto de lei que altera o Código Florestal for aprovado, está aberta a porteira para o extermínio das leis de proteção, dando sinal verde rumo ao vale tudo empresarial no campo.
O Globo
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