Palestina: três razões para esperança
Insucesso de Israel no ataque a Gaza, mudança na postura de Washington e possível governo de unidade podem reabrir, na agenda internacional, busca de uma saída para ocupação do país
Começou esta terça-feira (11/10), no Cairo, uma bateria de reuniões entre treze grupos políticos palestinos, inclusive os dois principais:Al Fatah criada por Yasser Arafat, que comanda a Autoridade Nacional Palestina e governa a Cisjordânia; e o fundamentalistaHamas, que controla a Faixa de Gaza. A reunião é parte de um mudança alentadora, ainda que muito incipiente. Pela primeira vez em muitos anos, é possível vislumbrar, para a Palestina, um horizonte diferente da dominação, humilhações e massacres promovidos por sucessivos governos de Israel.
Os motivos para otimismo são três. Primeiro, multiplicam-se os sinais de que Israel, derrotado ao invadir o Líbano, em 2006, também não obteve as metas que vislumbrava, na recente ofensiva sobre Gaza. Na edição de fevereiro de Le Monde Diplomatique há um balanço detalhado a respeito. Embora vitoriosos militarmente, os invasores não conseguiram alterar o status quo político em Gaza. Além disso, a violência empregada foi inteiramente desproporcional à que Israel alegou combater; e os massacres de civis, repetidos e ilimitados (inclusive visando instalações da ONU). Em consequência, houve graves prejuízos políticos e de imagem.
O segundo fator é a mudança clara na postura dos Estados Unidos, após o fim da era Bush e a posse de Obama. Os primeiros recados a este respeito foram transmitidos por Hillary Clinton, em sua recente visita ao Oriente Médio. A nova secretária de Estado dos EUA reintroduziu na agenda política da região a proposta de criação de um Estado palestino soberano, criticou Telavive ao menos parcialmente (referindo-se às destruições de imóveis de árabes em Jerusalém) e anunciou o envio de dois emissários de alto nível à Síria. É pouco, mas simbólico: indica que pode sofrer abalos, em Washington, a política de prioridade absoluta a Israel — essencial para manter a Palestina subjugada nas condições atuais.
O terceiro elemento animador é a própria retomada das negociações entre grupos palestinos. Al Fatah e Hamas vivem há anos um conflito aberto, que frequentemente degenera em choques armados e sangrentos de parte a parte. Além do reencontro no Egito, falam agora abertamente em constituir um governo de unidade. Esta semana, o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Salam Fayyad renunciou, para abrir caminho a um gabinete de reconciliação.
Há muito chão pela frente e é preciso aguardar o desenlace do conclave no Cairo. Mas, fruto dete pequeno conjunto de mudanças, está aberto um novo horizonte. Se os palestinos forem bem-sucedidos na reconstituição da unidade, o novo governo terá reconhecimento amplo. Poderão, então, terminar a guerra interna e o isolamento internacional que transformaram a ocupação, na última década, num fato quase fora da agenda política. Num ato infame que parecia, porém, um problema insolúvel — e por isso despertava, nos setores da opinião pública favoráveis à causa palestina, apenas um sentimento impotente de dor.
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