Steve Jobs, paixão e intuitividade
O planeta acordou triste na manhã de 6 de outubro de 2011. O mago Steve Jobs faleceu, após uma longa, histórica e bem-sucedida jornada à frente do mundo da tecnologia. Após cerca de sete anos de luta, foi vencido por um dos mais letais tipos de câncer. Ele foi um gênio, e todo gênio que se preza sobra em alguns aspectos e deixa a desejar em outros. Ao mesmo tempo em que demitia funcionários dentro dos elevadores da Apple, em Cupertino/Califónia, de lá eram lançados produtos como o Mac OS X, sobre o qual disse: “Os botões da tela ficaram tão bonitos que o usuário teria vontade de lambê-los”.
Ao mesmo tempo em que não fazia pesquisa com consumidores para lançar seus produtos, Jobs levava seus designers para conhecer a Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright, na Pensilvânia, para lhes inspirar o processo criativo. Ao mesmo tempo em que disse, com a maior naturalidade, que o trabalho de mil engenheiros que se debruçaram em um projeto durante três anos de nada valeu, lançou um MP3 com apenas um botão no meio, e é líder de categoria no segmento.
Se eu tivesse a dura missão de resumir Steve Jobs em poucas palavras, eu me limitaria a dizer: paixão aos detalhes e intuitividade. Tudo que a Apple fez, faz e fará carrega esses dois valores de modo sublime. Todos os produtos da empresa têm uma extrema atenção aos detalhes, tudo muito bem calibrado, bem pensado, e todo novo design tem um racional fortíssimo por trás. O cabo de energia é preso com ímã ao computador, pois se você tropeça no fio não joga seu trabalho no chão. O botão de liga/desliga é sempre atrás. Assim, caso você esbarre, isso não deletará todo seu projeto. Tudo é muito intuitivo. Nunca mexemos em um iPad, mas quando pegamos um parece que já sabemos onde as coisas estão.
Jobs deixa um legado incomparável. Há quem compare o que ele fazia como algo parecido com religião. Ele era o messias, a Apple Store, a Meca da tecnologia mundial, e nós não somos meros consumidores, somos verdadeiros seguidores e adoradores. Vale lembrar que ele era rodeado por outros gênios. Um deles é Jonathan Ive, que, ao mesmo tempo em que passeia em seu Aston Martin pelas praias da California, também desenha produtos como o iMac.
Jobs foi um gênio provocativo. Qual CEO no mundo hoje que sentava com funcionário de chão de fábrica para discutir o processo de abrir a caixa dos produtos da Apple pelo consumidor? Ele fazia isso, pois entendia que aquele era um momento mágico. Desafiou o mercado editorial com os e-Books, que vieram para ficar e crescem de maneira avassaladora. Os livros físicos estão com os dias contados.
Steve Jobs e a sua Apple ditaram a vanguarda tecnológica e, ao mesmo tempo, geram uma rápida e proposital obsolescência de seus produtos. O iPad 1 que, até o ano passado, estava na crista da onda, hoje já é velho. Dentro de anos, será item de museu. Não me restam dúvidas de que Tim Cook e seu brilhante time de engenheiros e designers já estão com o iPad 3 pronto, e o iPad 4 já no protótipo, e o iPad 17 já idealizado. E cabe a nós, consumidores, sermos engolidos por esse tsunâmi de gadgets. A verdade é que eu não preciso de iPad 2, mas eu tenho de ter.
Na manhã de 6 de outubro comecei a aula com meus alunos com um minuto de silêncio e dediquei toda nossa aula a Steve Jobs e ao seu brilhante legado à frente da Apple. Ao final, aplaudimos. Acho que essa é a melhor forma de homenageá-lo. Thanks, Steve!
Jornal do Brasil
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