Nas primeiras séries do ensino fundamental (1°ao 5º ano), 
apenas 1,5% das crianças abandona a escola ao longo do ano letivo. Mas o
 cenário começa a mudar a partir do 6° ano, quando a taxa de abandono 
atinge 4,6% dos alunos - três vezes mais do que a verificada nos anos 
iniciais da etapa. As taxas
 de rendimento escolar, divulgadas na última semana pelo Instituto 
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), revelam que a 
“porta de saída” da escola se abre logo no início do segundo ciclo do 
ensino fundamental e o problema cresce à medida que os anos seguem, 
atingindo um pico no ensino médio.
Os dados apontam que o 
abandono é um problema quase residual quando a criança está iniciando 
sua trajetória escolar, com uma taxa que varia entre 1,4% e 1,7% entre o
 1° e o 5° ano do ensino fundamental. É no segundo ciclo que começa a 
crescer. O índice mais alto foi registrado no 6° ano (4,6%), caindo para
 4,3% no 9º ano, última série da etapa. No ensino médio o problema 
persiste, com uma taxa média de abandono de 9,6%. O abandono se 
caracteriza quando o aluno deixa de frequentar as aulas e “perde” o ano,
 diferentemente da evasão que ocorre quando ele abandona os estudos e 
não retorna no ano seguinte.
Segundo a diretora executiva 
do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, o segundo ciclo do 
ensino fundamental não é foco nem das políticas nem dos pesquisadores 
que estudam os problemas do sistema escolar brasileiro. Ela avalia que a
 rotina do aluno passa por uma grande mudança quando ele entra no 6° 
ano: mais disciplinas compõem o currículo e o conteúdo
 se torna mais complexo. Por volta dos 12 anos, o jovem passa a conviver
 com mais professores de diferentes disciplinas, em oposição ao modelo 
anterior em que apenas um ou dois profissionais cuidavam de todos os 
conteúdos. Esses fatores podem explicar o aumento da taxa de abandono.
“O
 segundo ciclo do ensino fundamental é o mais esquecido de toda a 
política educacional, raramente há programas para esSa etapa. O foco, em
 geral, está nos primeiros anos do ensino fundamental que tem uma missão
 muito clara que é a da alfabetização. No segundo ciclo, o aluno começa a
 ter aulas com vários professores e o conteúdo fica mais complexo. Se 
ele não tiver uma base muito boa se perde nessa nova etapa”, avalia.
A
 incidência maior do abandono no segundo ciclo do ensino fundamental 
pode estar associada à reprovação – que começa a crescer a partir do 3º 
ano e atinge um pico no 6°. Para o Ministério da Educação (MEC), as 
“taxas de insucesso”, como a de abandono, “aumentam em sincronia com o 
acúmulo de fracassos experimentados
 ao longo da trajetória escolar. Naturalmente, alunos que experimentam 
sucessivos fracassos tendem a ter mais dificuldades na sua trajetória 
escolar, que se refletem no desestímulo ao longo do ano letivo”, 
respondeu a pasta por meio de nota.
Priscila aponta
 que não só as taxas de reprovação e abandono são maiores no segundo 
ciclo do ensino fundamental. Os indicadores de qualidade, como o Índice 
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), também registram
 piores resultados nessa fase. Para ela, isso é sinal de que as 
políticas educacionais deveriam prestar mais atenção às séries do 6º ao 
9° ano, que coincidem com um período de mudança na vida do aluno, dos 11
 aos 14 anos de idade.
“Na segunda etapa do ensino 
fundamental, o aluno não é nem a criança do primeiro ciclo, que está 
aprendendo a ler, nem o jovem do ensino médio, que está se preparando 
para o mercado de trabalho. Falta uma identidade. Precisamos de projeto 
que olhe para esse meio porque a trajetória escolar é cumulativa. É 
preciso cuidar de todas as séries”, pondera.
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